Introdução
O entusiasmo demonstrado aos alunos pelo professor é um dos fatores de maior influência no sucesso ou no fracasso dos alunos. Notadamente outros fatores se incluem na equação da aprovação. O processo de transferência, já citado por Kupfer (1995) também é um componente dessa complexa equação. Não se pode negar a influência de fatores externos à escola, como o contexto familiar e o histórico do aluno. Mas não podemos negar que um bom professor, mesmo que nos últimos anos de escola, faz toda a diferença na vida do estudante.
O vendedor que não acredita em seu produto jamais terá sucesso em suas vendas. Um professor que duvida da importância de sua ciência jamais conseguirá contagiar seus alunos com ao menos uma fagulha de entusiasmo durante as aulas. O resultado é simples: um professor desmotivado, somado a uma classe desmotivada resultará em um índice baixo de aprovação e conseqüentemente em desigualdade ao chegar no ensino superior. Há de considerar que muitos dos profissionais da educação já estão cansados, às portas da aposentadoria e por isso simplesmente fecham os olhos para os problemas, esperando que seu descanso chegue.
O processo de mudança se dá aos poucos, em pequenas ondas. E esse processo se mostra claramente nas posições e opiniões expressas em nossa pesquisa.
Metodologia
Os entrevistados têm média de idade de 40 anos, possuem pós-graduação voltada para a educação escolar e já gozam de longo tempo no exercício da atividade. Há equilíbrio entre o numero de profissionais do sistema publico de ensino, e o numero de profissionais de escolas particulares. O que nos dá maior segurança em suas avaliações do ambiente escolar, e nos permite uma visão mais homogênea do ensino no Distrito Federal. O baixo numero de entrevistados infelizmente não nos dá a segurança necessária para uma avaliação mais criteriosa dos resultados, restando-nos somente a breve análise da opinião de nosso pequeno grupo de entrevistados.
A maioria dos professores entrevistados demonstra otimismo quanto à situação do ensino, e defende que grande parte do texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional já é cumprido. Vinte e sete por cento dos entrevistados acredita na formação do cidadão para o cotidiano como uma das finalidades do ensino médio, e em nenhuma das respostas constava o ensino médio como uma etapa inútil para a formação do aluno. Essa mesma maioria defende também que o ensino médio serve como uma ligação entre os conteúdos ministrados no ensino básico e o superior, sendo a preparação para os processos seletivos para o ingresso na universidade um ponto extra.
Dos conteúdos abordados no ensino médio, todos foram citados como portadores de importância para os alunos do ensino superior, entre eles os que mais se destacaram foram, as línguas estrangeiras, o bom conhecimento de gramática, a produção e compreensão de textos. Apesar de um numero considerável de entrevistados afirmar que os conteúdos ministrados no ensino médio são de pouco ou nenhum aproveitamento na Educação Superior. Já quanto à utilização cotidiana dos conhecimentos obtidos, cinqüenta e dois por cento acredita que matemática, língua portuguesa, geografia, filosofia e história são as disciplinas de maior utilidade no dia a dia. Outros trinta e oito por cento citam a literatura, sociologia, gramática, inglês, matemática, redação, biologia, física, química, como uteis para solucionar os problemas cotidianos e compreender a sociedade. Apenas nove por cento diz não haver disciplinas uteis para o cotidiano do aluno.
Finalizando os dados pesquisados, temos a importância do Ensino Médio para o sucesso do aluno de graduação. Para sessenta e sete por cento dos entrevistados, o ensino médio não só concede o conhecimento teórico necessário para o bom desempenho do graduando como também provê as condições humanas, de amadurecimento, responsabilidade e comprometimento necessárias no ensino superior. Outros treze por cento defendem que a influência do Ensino Médio resume-se somente aos exames de admissão, não tendo qualquer poder no decorrer da graduação. Os conteúdos não são uteis nem tem influencia na vida do universitário segundo oito por cento dos entrevistados, enquanto cinco por cento acredita que há uma falha na formação dos professores e no modo como o ensino se dá e, portanto não acredita ser grande o impacto do ensino médio na vida do estudante do ensino superior, e igualmente cinco por cento diz que a importância do ensino médio varia com o curso superior freqüentado.
Resultados/Discussão
O que visualizamos é uma classe divida entre tantos problemas e soluções possíveis. Se por um lado temos o otimismo de parte dos professores, que ainda batalham por uma educação melhor, por outro lado encontramos um pessimismo aterrador, que nos diz que a cena a que assistimos é de total desanimo e desinteresse tanto por parte dos alunos quanto por parte dos professores. Essa situação não é nova, Paulo Freire já criticava e previa muito do que vemos agora. Antes mesmo de a escola existir como instrumento estatal de ensino, já era visível o caminho a que estava destinado esse modelo.
Se o ensino médio é apenas uma ponte entre o ensino básico e ensino superior, muitos estão caindo no rio. Rubem Alves, em seu artigo “Diploma não é solução”, defende um tratamento diferente ao ensino superior, e aqui posso estender essa proposta também ao ensino médio:
Já sugeri que os jovens que entram na universidade deveriam aprender, junto com o curso "nobre" que freqüentam, um ofício: marceneiro, mecânico, cozinheiro, jardineiro, técnico de computador, eletricista, encanador, descupinizador, motorista de trator... O rol de ofícios possíveis é imenso. Pena que, nas escolas, as crianças e os jovens não sejam informados sobre essas alternativas, por vezes mais felizes e mais rendosas.
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Tratar um estágio tão importante na formação da pessoa quer seja no âmbito intelectual, quer seja no âmbito emocional, dessa forma, é amputar o direito à escolha do jovem. Que infelizmente é tratado como mias um candidato à cadeira de uma universidade. Um bom sistema de ensino não deve priorizar somente os conteúdos científicos necessários para o ingresso no ensino superior, deve também abrigar o ensino de conhecimentos práticos uteis à vida cotidiana. Mas o modo como essa integração entre o senso comum e o conhecimento cientifico se dá em nossas escolas, não é o melhor modo de desenvolver uma educação de qualidade. Negligenciar o ensino das artes e das ciências humanas é tirar da arvore a possibilidade de gerar frutos
É evidente que por mais que se tente manter esse sistema de pé, ele permanecerá sempre fadado ao fracasso. Pois as ações necessárias a manutenção dele, como discussão dos objetos de avaliação e o acompanhamento do planejamento pedagógico não acontecem. O que se vê nas escolas é o
‘cada-um-por-si’ em que cada professor faz o que bem entende de seu tempo de aula e até mesmo leciona disciplinas diferentes daquelas em que é habilitado, tendo como único objetivo, o cumprimento de sua carga horária semanal.
Um grande número de entrevistados afirmou enxergar o ensino médio como um preparatório para vestibulares e avaliações do gênero. Apesar de muitos desses também visualizarem conteúdos uteis a vida cotidiana, ainda que sejam conhecimentos teóricos
Conclusão
As respostas não inovaram naquilo que apontam como problemático no Ensino Médio e na educação em geral. As múltiplas respostas obtidas podem se assim desejarmos, ser classificadas em no máximo três grandes grupos: aquelas que expressam total desgosto com o atual modelo de ensino, essa posição é endossada pelos mais pessimistas, que não acreditam que o ensino médio tenha grande influencia na vida futura do estudante. Uma posição intermediária, assumida por aqueles que visualizam a importância do Ensino Médio apenas para ao ingresso no Ensino Superior, e que reconhecem que ainda há muito para ser melhorado. E a terceira, cujos representantes defendem que a importância dos conteúdos ministrados vai alem da aprovação em vestibulares, atingindo o dia a dia do estudante, colaborando para que ele possa compreender e relacionar-se com o mundo.
O que se mostra ser comum acordo entre todos os participantes é a necessidade de reforma do atual sistema, por outro que possa ser mais eficaz na identificação e orientação das habilidades de cada aluno, possibilitando uma educação voltada para cada pessoa e não o modelo atual que trata todos igualmente.
Bibliografia
Vistas de alguns conceitos psicanalíticos. (pp. 297-306). Em
Escola Lacaniana de Psicanálise do RJ (Org.)
Trata-se uma criança. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.
HARPER, Babette. CECCON, Claudius. OLIVEIRA, Miguel Darcy de. OLIVEIRA, Rosiska Darcy de.
Cuidado, escola! 35ª Ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994.
[1] ALVES, Rubem. Diploma não é solução. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u834.shtml > Acesso em: 29.jan.2011