sábado, 20 de abril de 2013

Sobre o Matrimônio - São Francisco Sales

Excelente texto sobre Matrimônio, escrito no séc. 17, mas de conteúdo bastante atual. Do livro "Filotéia", de São Francisco de Sales. Apesar de extenso, vale a pena ler!
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      "O casamento é um grande sacramento, eu digo em Jesus Cristo e na sua Igreja é honroso para todos, em todos, e em tudo, isto é, em todas as suas partes. Para todos: porque as próprias virgens o devem honrar com humildade. Em todos: porque é tão santo entre os pobres como é entre os ricos. Em tudo: porque a sua origem, o seu fim, as suas vantagens, a sua forma e matéria são santas.

      É o viveiro do Cristianismo, que enche a terra de fiéis, para tornar completo no céu o número dos eleitos: de sorte que a conservação do bem do casamento é sobremaneira útil para a república; porque é a raiz e o manancial de todos os seus arroios.Prouvera a Deus que o seu Filho muito amado fosse chamado para todas as bodas como o foi para a de Caná; nunca faltaria lá o vinho das consolações e das bençãos; porque se não as há senão um pouco ao princípio, é porque, em vez de Nosso Senhor, se fez vir a elas Adônis e, em lugar de Nossa Senhora, se faz vir a Vênus. Quem quer ter cordeirinhos bonitos e malhados, como Jacó, precisa como ele de apresentar às ovelhas quando se juntam para conceber umas lindas varinhas de diversas cores; e quem quer ser bem-sucedido no casamento, deveria em suas bodas representar a si mesmo a santidade e dignidade deste Sacramento; mas em lugar disso dão-se aí mil abusos e excessos em passatempos, festins e palavras. Não é pois de admirar que os efeitos sejam desordenados.

      Exorto sobretudo aos casados ao amor recíproco que o Espírito Santo tanto lhes recomenda na Sagrada Escritura: ó casados não se deve dizer: amai-vos um ao outro com o amor natural, porque os casais de rolas fazem isto muito bem; nem se deve dizer: amai-vos com amor humano, porque também os pagãos praticaram esse amor; mas digo-vos encostado ao grande Apóstolo: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Jesus Cristo ama a Igreja; ó mulheres, amai vossos maridos, como a Igreja ama o seu Salvador”.

      Foi Deus quem levou Eva a nosso primeiro pai Adão, e lha deu por mulher; foi também Deus, meus amigos, que com sua mão invisível fez o nó do sagrado laço do vosso matrimônio, e que vos deu uns aos outros: por que não haveis então de amar-vos com amor todo santo, todo sagrado, todo divino? O primeiro efeito deste amor é a união indissolúvel dos vossos corações. Se se grudam duas peças de pinho, uma vez que a cola seja fina, a união fica tão forte, que será mais fácil quebrar as peças noutros locais do que no local da junção; mas Deus junta o marido e a mulher em seu próprio sangue: e por isso é que esta união é tão forte que antes se deve separar a alma do corpo de um e de outro do que separar-se o marido da mulher. Ora esta união não se entende principalmente do corpo, mas sim do coração, do afeto e do amor.


      O segundo efeito deste amor deve ser a fidelidade inviolável de um ao outro: antigamente gravavam-se os selos nos anéis que se traziam nos dedos, como a própria santa Escritura testifica. Aqui está o segredo da cerimônia que se faz nas bodas: a Igreja pela mão do sacerdote benze um anel, e dando-o primeiramente ao homem, dá a entender que sela e cerra seu coração por este Sacramento, para que nunca mais nem o nome, nem o amor de qualquer outra mulher possa nesse coração entrar, enquanto viver aquela que lhe foi dada: depois o esposo mete o anel na mão da própria esposa, para que ela reciprocamente saiba que nunca o seu coração deve conceber afeto por qualquer outro homem, enquanto viver sobre a terra aquele, que Nosso Senhor acaba de lhe dar.O terceiro fruto do casamento é a geração e a legítima criação e educação dos filhos. Grande honra é esta para vós, ó casados, que Deus, querendo multiplicar as almas que possam bendizê-lO e louvá-lO por toda a eternidade, vos torna cooperadores de obra tão digna, por meio da produção dos corpos, em que Ele reparte, como gotas celestes, as almas, criando-as e infundindo-as nos corpos.

      Conservai pois, ó maridos, um terno, constante e cordial amor a vossas mulheres: por isto foi a mulher tirada do lado mais chegado ao coração do primeiro homem, para que fosse amada por ele cordial e ternamente. As fraquezas e enfermidades de vossas mulheres, quer do corpo, quer do espírito, não devem provocar-vos a nenhuma espécie de desdém, mas antes a uma doce e amorosa compaxião, pois Deus criou-as assim para que dependendo de vós, vos honrem e vos respeitem mais, e de tal modo as tenhais por companheiras que contudo sejais os chefes e superiores. E vós, ó mulheres, amai ternamente, cordialmente, mas com um amor respeitoso e cheio de reverência, os maridos que Deus vos deu: porque realmente por isso os criou Deus de um sexo mais vigoroso e predominante, e quis que a mulher fosse uma dependência do homem, e osso dos seus ossos, e carne da sua carne, e que ela fosse produzida por uma costela deste, tirada debaixo dos seus braços, para mostrar que ela deve estar debaixo da mão e governo do marido; e toda a Escritura Santa vos recomenda severamente esta sujeição, que aliás a mesma Escritura vos faz doce e suave, não somente querendo que vos acomodeis a ela com amor, mas ordenando a vossos maridos que a exerçam com grande afeto, ternura e suavidade.

     Maridos, diz São Pedro, portai-vos discretamente com vossas muleh
res como com um vaso mais frágil, honrando-as. Mas assim como vos exorto a afervorar cada vez mais este recíproco amor que vos deveis, estai alerta para que não se converta em nenhuma espécie de ciúme: porque acontece muitas vezes que, como o verme se cria na maçã mais delicada e madura, também o ciúme nasce no amor mais ardente e afetuoso dos casados, cuja substância aliás estraga e corrompe; porque pouco a pouco acarreta os desgostos, desavenças e divórcios. Por certo que o ciúme nunca chega aonde a amizade está de parte a parte fundada na verdadeira virtude: e eis a razão por que ela é um sinal indubitável de um amor sensual, grosseiro, e que se dirigiu a objeto em que encontrou uma virtude defeituosa, inconstante e exposta a desconfianças. É, pois, uma pretensão tola quere dar a entender com os zelos a grandeza amizade: porque o sinal na verdade é um sinal da magnitude e corpolência da amizade, mas não da sua bondade, pureza e perfeição; pois que a perfeição da amizade pressupõe a firmeza da virtude da coisa que se ama, e o ciúme pressupõe a incerteza.
     Se quereis, maridos, que as vossas mulheres vos sejam fiéis, ensinai-lhes a lição com o vosso exemplo: “Com que cara,- diz S. Gregório Nazianzeno -, quereis exigir honestidade de vossas mulheres, se vós próprios viveis na desonestidade? Como lhes pedis o que não lhes dais? Quereis que elas sejam castas? Vivei castamente com elas”, e, como diz São Paulo, saiba cada um possuir o seu vaso em santificação. Mas, se pelo contrário vós mesmos lhes ensinais as dissoluções, não é de admirar que sofrais a desonra da sua perda. Mas vós, ó mulheres, cuja honra está inseparavelmente aliada com a pureza e honestidade, conservai zelosamente a vossa glória, e não permitais que nenhuma espécie de dissolução empane a brancura da vossa reputação.

     Temei toda a sorte de ataques, por pequenos que sejam: nunca permitais que andem em volta de vós os galanteios. Todo aquele que vem elogiar a vossa formosura e a vossa graça deve ser-vos suspeito. Porque quem gaba uma mercadoria que não pode comprar, ordinariamente é muito tentado a roubá-la. Mas se ao vosso encômio alguém adicionar o desprezo de vosso marido, ofende-vos sobremaneira, porque a coisa é clara, que não somente quer perder-vos, mas já vos tem na conta de meio perdida, pois que metade do contrato é feito com o segundo comprador, quando se está desgostoso do primeiro. As senhoras, tanto antigas como modernas, acostumaram-se a levar pendentes das orelhas muitas pérolas, pelo prazer, diz Plínio, que têm em as ouvir tilintar e chocalhar, tocando umas nas outras. Mas quanto a mim, que sei que o grande amigo de Deus, Isaac, enviou à casta Rebeca pendentes de orelhas como os primeiros penhores do seu amor: eu creio que este ornamento místico significa que a primeira coisa que um marido deve ter de uma mulher, e que a mulher lhe deve fielmente guardar, é a orelha, para que nenhuma linguagem ou ruído possa aí entrar, senão o doce e amigável gorjeio das palavras castas e pudicas, que são as pérolas orientais do Evangelho. Porque é preciso lembrar-se sempre de que as almas se envenenam pelo ouvido, como o corpo pela boca.

     O amor e a fidelidade juntos trazem sempre consigo a familiaridade e confiança; é por isso que os Santos e as Santas usaram de muitas carícias recíprocas em seu matrimônio, carícias verdadeiramente amorosas, mas castas; ternas, mas sinceras. Assim Isaac e Rebeca, o casal mais casto dos casados do tempo antigo, foram vistos à janela a acariciar-se de tal sorte que, embora nada nisso houvesse de desonesto, Abimelec conheceu bem que eles não podiam ser senão marido e mulher. O grande São Luís, tão rigoroso com a sua carne, como terno amor a sua mulher, foi quase censurado de ser pródigo em tais carícias: embora na verdade antes merecesse encômio por saber despojar-se do seu espírito marcial e corajoso para praticar estas ligeiras obrigações necessárias para a conservação do amor conjugal; porque ainda que estas pequenas mortificações de pura e franca amizade não prendam os corações, contudo aproximam-nos, e servem de agradável isca para a mútua conversação.

     Santa Mônica, estando grávida do grande Santo Agostinho, consagrou-o com repetidos oferecimentos à Religião cristã, e ao serviço da glória de Deus, como ele próprio testifica, dizendo: que já no ventre de sua mãe tinha provado o sal de Deus. É um grande ensinamento para as mulheres cristãs oferecer à divina Majestade o fruto de seus ventres, mesmo antes que deles tenham saído: porque Deus, que aceita as oblações de um coração humilde e bem formado, ordinariamente favorece os bons desejos das mães nessa circunstância: sejam disso testemunhas Samuel, S. Tomás de Aquino, S. André de Fiesole, e muitos outros. A mãe de S. Bernardo, digna mãe dum tal filho, tomando seus filhos e filhas nos braços apenas nasciam, oferecia-os a Jesus Cristo; e desde logo os amava com respeito como coisa sagrada, e que Deus lhe tinha confiado: o que lhe deu tão feliz resultado, que todos os seus sete filhos foram muito santos. Mas uma vez vindos os filhos ao mundo, e começando a ter uso da razão, devem os pais e mães ter um grande cuidado de lhes imprimir o temor de Deus no coração.  (...)
     S. Paulo deixa como incumbência às mulheres o governo da casa; e por isso muitos seguem esta verdadeira opinião que a sua devoção é mais frutuosa para a família que a dos maridos, que, não tendo uma residência tão continuada entre os domésticos, não pode, por conseguinte encaminhá-los tão facilmente para a virtude. Segundo esta consideração Salomão nos seus provérbios faz depender a felicidade de toda a sua casa do cuidado e esmero da mulher forte que descreve.
     Diz-se no Gênesis que Isaac, vendo a esterilidade de sua esposa Rebeca, rogou ao Senhor por ela: ou segundo o texto hebraico, rogou ao Senhor em frente dela, porque um orava de um lado do oratório e outro do outro lado; e a oração do marido feita deste modo foi ouvida. A maior e mais frutuosa união do marido e da mulher é a que se faz na devoção, à qual se devem excitar à perseverança um ao outro. Frutos há, como o marmelo, que, pela aspereza do seu suco, não são agradáveis senão postos em conserva. Há outros que, pela sua brandura e delicadeza, não se podem conservar senão também postos em doce, como as cerejas e os damascos: assim as mulheres hão de desejar que os seus maridos estejam em conserva no açúcar da devoção. Porque o homem sem devoção é um animal severo, áspero e duro; e os maridos devem desejar que as suas mulheres sejam devotas; porque sem a devoção, a mulher é em extremo frágil e sujeita a cair ou embaciar a sua virtude.
     S. Paulo disse que o homem infiel é santificado pela mulher fiel e a mulher infiel pelo homem fiel, porque nesta estreita aliança do casamento um pode facilmente puxar o outro à virtude. Mas que grande benção há quando o homem e a mulher fiéis se santificam um ao outro num verdadeiro temor de Deus! Além disso, hão de ter tanta condescendência um com o outro, que nunca se aborreçam e irritem ambos ao mesmo tempo e de repente, para que entre eles não se note dissensão nem disputa. As abelhas não podem estar em lugar onde se ouvem ecos e estrondos, e onde soa a voz repetida: nem o Espírito Santo pode demorar numa casa onde há disputas, réplicas e repetição de vozes e altercações. S. Gregório Nazianzeno diz que no seu tempo os casados faziam festa no anivesário dos seus casamentos. E eu por certo aprovaria que se introduzisse este costume, contanto que não fosse com aparatos de diversões mundanas e sensuais, mas que os maridos e mulheres, tendo-se confessado e comungado nesse dia, recomendassem a Deus, mais fervorosamente que de costume, o progresso do seu matrimônio, renovando os bons propósitos de o santificar cada vez mais por uma recíproca amizade e fidelidade, e cobrando alento em Nosso Senhor, para arcar com os encargos da sua vocação."


São Francisco de Sales - Filotéia (Capitulo 38)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A distância uma hora acaba!

     Como alguns sabem, durante dois anos e meio mantive um namoro à distância (por motivos pessoais, mudei-me para São Luís com minha família). Desde o início tínhamos em mente que essa distância não poderia durar tanto tempo; se discerníssemos que realmente deveríamos nos casar, alguém teria que se mudar quando possível. Ano passado ele me pediu em noivado na Catedral de Brasília.

     Não sei se recomendaria a experiência de namoro a distância a alguém, pois não é fácil! Mas o que nos sustentou foi a oração, a confiança um no outro, a persistência mesmo com os desentendimentos, as viagens e as longas conversas diárias por telefone.

     Hoje, enfim, ele já se formou e já faz um mês que está morando aqui em São Luís. Para mim foi uma prova de amor muito grande; não sei exprimir o que senti ao vê-lo no aeroporto me esperando com um abraço. Eu pensava, ele deixou tudo, família, amigos, conforto, para se arriscar na vocação a que Deus o chamou! Acreditando ainda na providência para conseguir um emprego (que aliás, já conseguiu).

     Isso sim é acreditar quando Deus diz a Abraão "sai da tua terra, e te darei algo melhor e uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu", e acreditar na palavra "o homem deixará seu pai e sua mãe".

     O fato de ele vir morar aqui não implica necessariamente estarmos casados no futuro, pois a nossa convivência este ano e a saudade que ele está sentindo de lá  podem ser fatores que mudem nossos planos (por mais que eu não queira que isso aconteça). Apesar disso, em todos esses acontecimentos temos tirado muitas lições, sobretudo a de confiar na providência de Deus.

     Há quem pense que vamos nos casar por motivos de gravidez ou que estamos morando juntos aqui em São Luís; nenhuma das duas afirmações é verdadeira. Alguns parentes e amigos alegam estar cedo para nos casarmos (eu estarei com vinte e dois e ele com vinte e quatro), pois dizem que ambos devem estar já estabilizados financeiramente para pensar na possibilidade de casamento. É um argumento válido, não fosse o fato de que nossa confiança não está no dinheiro, mas em Deus. Não fosse também o fato de que temos a obrigação de viver a castidade e que não podemos fazer o corpo esperar o casamento por tanto tempo (não que seja impossível, mas não há necessidade), além de que julgamos já ter maturidade suficiente para viver o matrimônio.

Brincadeira no Chá de Panela
     É tão verdade que Deus tem agido na nossa vida pelo tanto de coisas que ganhamos e conquistamos em tão pouco tempo: casa, geladeira, fogão, microondas, mesa e várias outras coisas de casa, um cachorro, além da confiança de nossos catequistas do Caminho, uma turma de catequese de Perseverança na Paróquia para tomarmos a frente, e um trabalho que ele conseguiu após duas semanas aqui, não ainda na área dele, mas que já vai nos ajudar bastante por enquanto. Estas coisas também servem para confirmar a passagem que encabeça o Blog.


     Enfim, compartilho estas coisas aqui, pois estou feliz e confiante de estar seguindo meu coração e estar conforme a vontade de Deus, mesmo casando ainda jovem e pobre. Afinal, com nossos pais a avós foi assim, por que conosco não daria certo!? Além do que daqui a não muito tempo estarei formada e também poderei trabalhar se for o caso. Um abraço a todos, e orem por nós para que dê tudo certo!

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