quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Dicas para uma vida tranquila de padre

Recebi do Rafael José, seminarista e irmão de comunidade paroquial, via Facebook.
Postado pelo blog Na Mesma Estrada.

  • Nunca critique ninguém, nunca fale a verdade abertamente, não denuncie as injustiças (especialmente do governo), não defenda a radicalidade evangélica nem se meta em polêmicas sobre a doutrina da Igreja.
  • Fique sempre do lado dos ricos, especialmente nunca negue um pedido particular, uma exceção para quem ajuda financeiramente a Igreja. Deixe as pessoas fazerem o que elas acharem mais bonitinho na liturgia, dê chance pra todos mostrarem os seus dons e talentos usando o microfone da Igreja pra isso.
  • Celebre a missa bem rapidinho, não reclame de nada do altar, nada mesmo! Não reclame da roupa curta das meninas ou das bermudas dos homens ou do modo de vestir seja lá de quem. Não exija que as pessoas sejam pontuais na missa, afinal, elas têm mais o que fazer! Deixe as pessoas comungarem da forma que acharem que devem.
  • Sorria sempre, como os políticos, nunca demonstre a verdade sobre os seus sentimentos. Não receba ninguém, absolutamente ninguém em casa, só em grupos e com todas as portas abertas e só durante a parte mais luminosa do dia.
  • Uma dica muito, muito importante: deixe os leigos fazerem o que quiserem com o dinheiro da Igreja, não exija prestação de contas.
  • Deixe que as festas dos padroeiros sejam um momento de arrecadação, custe o que custar. Não impeça venda de bebidas alcoólicas, shows mundanos, seja lá o que for.
  • Faça o catecismo bem rapidinho e deixe as crianças se fantasiarem de princesas e pajens para tirar fotos na primeira comunhão. Aliás, em todos os momentos litúrgicos de festa, deixe que os fotógrafos façam o que quiserem, subam no altar, se for necessário, subam literalmente na mesa do altar, contanto que a foto fique bonita no casamento, crisma, primeira eucaristia, batizado, etc.
  • Celebre nas casas para a comodidade do povo, especialmente dos ricos. Não faça curso de batismo e aceite qualquer um ser batizado, com qualquer padrinho. Diga para as pessoas juntas, amasiadas, que elas podem comungar, mas diga em segredo pra que ninguém saiba.
  • Não exija engajamento dos jovens. Crisme qualquer um que queira, afinal, é problema deles…
  • Enfim, seja um padre bem bonzinho, que se esforça ao máximo, ao extremo mesmo, para agradar a todo mundo. Pronto: você terá uma vida quase 100% tranquila e uma eternidade bem quentinha nas profundezas do inferno!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Combater o pecado é batalha constante e difícil

  Andei refletindo sobre o quanto é difícil fazer com que nosso coração não se incline para o mal em nenhum momento. Falo isso por mim, é uma batalha constante. Parece que quanto mais pedimos a Deus para que não nos deixe cair em tentações, mais tentações aparecem, e várias vezes caímos nelas, ainda que em Deus se encontre toda a força necessária para que não caiamos. O Senhor sabiamente permite estas tentações, pois é necessário que sejamos provados , combatamos “o bom combate” contra o maligno, a fim de recebermos a coroa da salvação, como nos diz São Paulo.
    O problema é que costumamos deixar brechas para o pecado. Um padre confessor, certa vez me disse que se damos um centímetro ao demônio, ele nos toma um quilômetro. Afinal, ele é um anjo, e sabe quais são as nossas fraquezas e portas para sua entrada, principalmente quando não estamos em estado de graça, seja um pensamento, um link, uma letra de música, uma foto. São Pedro, todavia, nos exorta: “Sede sóbrios e vigilantes. O vosso adversário, o diabo, rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé.” 1Pd 5, 8-9a.
    Aliás, não estou dizendo isto para assustar alguém, ao contrário. Uma das mentiras que o demônio usa é dizer que ele mesmo não existe e que, portanto, não há problema em pecar. Temos muitas evidências de exorcismos que o Senhor Deus muitas vezes permite para que creiamos nEle. No entanto, nossa alegria é que o Senhor tem poder sobre todas as coisas, e por isso não precisamos ter medo do diabo, mas antes, combatê-lo violentamente a fim de que ele não seja violento contra nós.
    Um padre exorcista (não encontrei o link da entrevista...), disse que o maligno usa muito de nossa curiosidade para poder entrar em ação: somos curiosos por nosso futuro, por lugares, por sensações. Santo Teófilo, o Recluso (monge russo), diz que o diabo procura nos perder ou pela luxúria, nos levando a situações que podem ferir a castidade, ou pela ira, nos enchendo de situações irritantes; sempre tenta por um dos lados; diz também que se nossa alma está transparente diante do Senhor, o demônio não tem acesso a ela, mas se ela se mancha, ele já encontra uma porta de acesso (recebi isto no Anúncio do Advento do Caminho, este mês). Assim, “não vos exponhais ao diabo; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4,27s), pois se nos entregamos à ira, manchamos nossa alma. Ao contrário, em tudo dai graças (e como eu falava no início, como é difícil!).
     Não é a toa que São Paulo nos fala “orai sem cessar”(1Ts 5,17). A oração e a penitência são um bom escudo para o pecado. São Pio de Pietreucina[ler]  diz: “Quer ser santo?  Saiba que é uma vida de cachorro.” Ele quem o diga, que sofreu muitas chagas e até possessões. De fato, nós cristãos devemos nos configurar à cruz de Cristo, pois quem foge da Cruz é o diabo.  
    Deus, no entanto, sabe muito bem que somos fracos e caímos, às vezes até sem perceber, e por isso perdoa aquele que se arrepende. O salmista, no capítulo 50(51), retrata muito bem o coração do justo que peca. Diz: “Eu reconheço toda minha iniquidade, o meu pecado está sempre à minha frente.(...) Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, e pratiquei o que é mau aos vossos olhos.(...) Lavai-me todo inteiro do pecado e apagai completamente a minha culpa”. Rezar este salmo é um bom exercício de piedade, pois nos ajuda a reconhecer-nos necessitados da graça de Deus.
    Por fim, que possamos viver bem este tempo de Advento (apesar de já estar terminando), não se esquecendo de procurar a Confissão e uma especial devoção à Virgem Maria, que gera a Cristo em seu ventre, assim como devemos gerá-lo em nossos corações.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Lumen Gentium - Sobre a Virgem Maria



Andei lendo a constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium [texto na íntegra], para apresentar à minha comunidade neocatecumenal. Tive a sorte de ficar com a parte que fala da Virgem Maria, onde a compara com a Igreja. Muitas coisas me chamaram atenção e até me ajudaram a compreender melhor que tipo de devoção a Maria a Igreja nos ensina a ter. Por isso, exponho alguns trechos aqui (tentei resumir, mas deu isso):

   (do art.56) Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuisse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo a modelou e d'Ela fez uma nova criatura. (...)
«o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé» (Santo Irineu); e, por comparação com Eva, chamam Maria a «mãe dos vivos»(Santo Epifânio) e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio por Maria» (São Jerônimo).

(do art. 57) (...) a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade virginal, mas antes a consagrou.

(do art.60)  O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos (1 Tm 2, 5s). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece.

(do art. 61)(...) Mãe do divino Redentor, mais que ninguém sua companheira generosa e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça.

(do art.62)(...) Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira (Leão XIII). Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo (Santo Ambrósio).
 
   Efetivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variadamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte.
Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e salvador.

(do art. 63) Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava S. Ambrósio. Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe.(...)

(do art. 66) (...)Foi sobretudo a partir do Concílio do Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso» (Lc1,48).(...)

(do art. 67) O sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todas os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem, sobretudo o culto litúrgico. (...) Aos teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os que se abstenham com cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de Deus (Pio XII). Estudando, sob a orientação do magistério, a Sagrada Escritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias das Igrejas, expliquem como convém as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade, santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes.

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